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CheckMate 9ER – Análise de modelagem de qualidade de vida e desfechos clínicos com cabozantinibe + nivolumabe no tratamento de primeira linha do carcinoma de células renais avançado

Autores do Artigo

D. Cella, M. Derosa, L. Floden, R. H. Giles, M. Lothgren, A. Ogareva, T. Powles, I. Purnajo, T. K. Choueiri, C. Bergerot, R. J. Motzer, J. Bedke

Revista

ESMO Open

Data da publicação

Junho 2025

Autor do Resumo

Editor

Publicação do Resumo

Julho 2025

Apoio educacional:

  

Introdução

Em junho de 2025 foi publicado na revista ESMO Open, em tradução livre, o artigo “Perfil de qualidade de vida relacionada à saúde e desfechos clínicos em primeira linha no carcinoma de células renais avançado: uma análise de modelagem baseada no estudo CheckMate 9ER”. O trabalho utilizou dados do estudo pivotal CheckMate 9ER para investigar como mudanças precoces na qualidade de vida se relacionam com os desfechos clínicos e se perfis sintomáticos poderiam prever a evolução da doença.

Confira abaixo mais detalhes do estudo:

Objetivo

Avaliar a associação entre mudanças precoces em qualidade de vida e desfechos clínicos, e identificar perfis de pacientes baseados em sintomas com potencial valor prognóstico.

Desenho do estudo

Análise post hoc baseada no estudo randomizado de fase 3 CheckMate 9ER.

Número de pacientes

651 pacientes da população por intenção de tratamento (323 no grupo cabozantinibe + nivolumabe e 328 no grupo sunitinibe).

Período de inclusão

Entre setembro de 2017 e maio de 2019.

Materiais e Métodos

Foram utilizados dados de qualidade de vida autorrelatada por meio do questionário FKSI-19 (Functional Assessment of Cancer Therapy – Kidney Symptom Index). Modelos de Cox investigaram a associação entre deteriorações precoces em sintomas e desfechos clínicos. Análise de classes latentes foi conduzida para identificar subgrupos de pacientes com perfis sintomáticos distintos. A análise foi realizada após um seguimento mediano de 32,9 meses.

Desfechos

Sobrevida global, tempo até progressão, taxa de resposta objetiva, tempo até toxicidade grau 3/4 e descontinuação por toxicidade. Desfechos exploratórios incluíram deterioração em qualidade de vida e análise de subgrupos sintomáticos.

Critérios de inclusão e exclusão mais relevantes

Pacientes com carcinoma de células renais avançado com componente de células claras, sem tratamento sistêmico prévio.

Resultados

A análise mostrou que deteriorações precoces na semana 13 em dois itens do FKSI-19 — dor óssea e qualidade do sono — se associaram a maior risco de mortalidade (HR 1,45; IC 95%: 1,09–1,93; p=0,010 para dor óssea; HR 1,45; IC 95%: 1,10–1,90; p=0,007 para sono). Por outro lado, a piora de dor esteve associada a menor risco de descontinuação por toxicidade (HR 0,42; IC 95%: 0,22–0,79; p=0,008). Não foi observada associação estatisticamente significante entre piora precoce de sintomas e risco de progressão ou resposta tumoral.

Tempo para descontinuação por toxicidade:

Item do FKSI-19 HR (IC 95%) Valor de p
Febre 1,38 (0,93–2,06) 0,109
Dor óssea 1,45 (1,09–1,93) 0,010
Fraqueza 0,78 (0,59–1,03) 0,080
Dormir bem 1,45 (1,10–1,90) 0,007
Diarreia 0,77 (0,58–1,03) 0,078

Três perfis distintos de pacientes foram identificados com base na análise de classes latentes dos sintomas autorrelatados na semana 13: sintomas limitados (26,4%), sintomas moderados a severos (61,6%) e sintomas severos (12,0%). Pacientes com sintomas limitados foram mais frequentemente tratados com cabozantinibe + nivolumabe (63,4%), apresentaram maior tempo de tratamento (>122 semanas em 37,2%) e menor taxa de progressão (61,6%) em comparação aos demais grupos. A progressão foi mais frequente no grupo com sintomas severos (76,9%). A classe moderada a severa apresentou a menor proporção de progressão (55,1%).

Cabozantinibe + nivolumabe foi associado a menor risco de progressão (HR 0,57; IC 95%: 0,46–0,70; p<0,001), maior chance de resposta tumoral (HR 2,13; IC 95%: 1,64–2,75; p<0,001) e menor risco de morte (HR 0,71; IC 95%: 0,53–0,94; p=0,017) em comparação com sunitinibe, independentemente das alterações precoces na qualidade de vida.

Além disso, foi realizada uma comparação direta dos escores dos itens individuais do FKSI-19 na semana 13 entre os braços. Os pacientes tratados com cabozantinibe + nivolumabe apresentaram menor frequência de sintomas como falta de energia (OR 0,55; p=0,0005), dor (OR 0,70; p=0,0439), fadiga (OR 0,55; p=0,0006), dor óssea (OR 0,57; p=0,0068), fraqueza generalizada (OR 0,54; p=0,0005), náuseas (OR 0,56; p=0,0110) e incômodo com efeitos colaterais do tratamento (OR 0,61; p=0,0041). Também relataram com mais frequência capacidade de trabalhar (OR 0,70; p=0,0312), embora tenham apresentado mais diarreia (OR 1,47; p=0,0498). Esses resultados favorecem o perfil sintomático do braço CaboNivo na maioria dos domínios avaliados.

Conclusão do Trabalho

A combinação de cabozantinibe com nivolumabe demonstrou benefícios clínicos e de qualidade de vida em comparação com sunitinibe. Deteriorações precoces em dor óssea e sono se associaram a pior sobrevida, enquanto perfis sintomáticos puderam distinguir subgrupos com diferentes desfechos. Monitorar sintomas precocemente pode otimizar decisões terapêuticas personalizadas.

Comentário Editorial

Este estudo post hoc do CheckMate 9ER contribui para a compreensão do papel dos sintomas autorrelatados como potenciais preditores de desfechos clínicos em pacientes com carcinoma de células renais avançado. A associação entre piora precoce de dor óssea e sono com aumento no risco de mortalidade levanta a possibilidade de usar parâmetros de qualidade de vida como marcadores prognósticos adicionais na prática clínica. A análise de classes latentes é particularmente relevante ao demonstrar que o perfil sintomático na semana 13 pode estratificar pacientes quanto à evolução clínica e tempo de tratamento. Cabe destacar que esses perfis não se sobrepõem às categorias do escore de risco do IMDC, sugerindo valor complementar dessas métricas.

Entretanto, o estudo apresenta limitações que devem ser consideradas. Trata-se de uma análise post hoc, sujeita a viés de tempo imortal pela escolha da semana 13 como ponto de corte. Além disso, não foram avaliadas as mudanças nos sintomas ao longo de todo o tratamento, o que poderia capturar melhor a dinâmica da qualidade de vida. A ausência de dados sobre terapias subsequentes também limita a interpretação dos desfechos de sobrevida. Mesmo com essas limitações, o estudo reforça a importância de incorporar medidas de qualidade de vida nas decisões terapêuticas e abre caminho para investigações prospectivas que explorem intervenções precoces baseadas em sintomas autorrelatados.

Referência

Cella D, Derosa M, Floden L, et al. Health-related quality-of-life profile and clinical outcomes in first-line advanced renal cell carcinoma: a modeling analysis based on the CheckMate 9ER study. ESMO Open. Published online June 2025. doi:10.1016/j.esmoop.2025.105115

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